Da minha família herdei meu primeiro piano, muitas partituras e o gosto pela arte.
O público me encantou desde muito cedo, nas pequenas apresentações familiares e nos palcos da escola: cantando, declamando, dançando, contando histórias e apresentando meus arranjos e interpretações ao piano.
Fiz alguns anos de musicalização, mas foi minha primeira professora de piano, Enne Valente, quem realmente ressignificou a música como sendo parte de mim. Tia Enne conseguia equilibrar disciplina, responsabilidade, criatividade, improviso, carinho, respeito e paixão na música e na vida.
“Não dou aulas para crianças” dizia ela por uma portinhola na porta de entrada do apartamento. Minha mãe insistiu: “mas ela já toca um pouco, será que poderia tocar apenas uma peça?” Depois de uns segundos que pareceram anos em silêncio a senhora abriu a porta e nos levou à sala de piano enfatizando que não dava aulas para crianças e que eu tomasse cuidado com o piano dela. Me fez lavar as mãos antes de tocar. Minha vó havia me ensinado umas peças bem simples e foram estas que eu toquei. Quando terminei a professora e a amiga que a visitava tinham lágrimas correndo pelos olhos. Ganhei um forte abraço e agendei minha primeira aula de piano.” 🙂
Mesmo após anos de estudo e experiências dentro e fora da academia, sempre volto àquele princípio inicial plantado por ela quando eu tinha 8 anos: tocar o piano como uma extensão de mim mesma e fazê-lo com o propósito de me comunicar pela música, de alcançar as pessoas através da arte.
Me graduei bacharel em piano pela UFPel em 1997, já com 9 anos de experiência ensinando piano para crianças e adolescentes. Vários pianistas para quem toquei tiveram grande influência no desenvolvimento da minha personalidade musical. Dentre eles destaco Luiz Carlos de Moura Castro (EUA-Brasil), Luiz Henrique Senise (RJ), Gayane Sharluyan (Rússia-Espanha) e Thomas Steinhöfel (Alemanha).
Foi com a professora mais temida do Conservatório de Música que resolvi encarar os estudos de forma profissional, a pianista Aida Pons Dias da Costa. Eu adorava suas aulas e o apoio que ela me dava para eu começar a dar aulas particulares.
Nem só de piano solo vive um artista, portanto desenvolvi um intenso trabalho em orquestra de câmara, duos e acompanhamentos. Tive a oportunidade de passar por um repertório muito vasto: música antiga com grupo de flauta doce coordenado pelo flautista Pablo Espiga, música de câmera sob a regência do maestro Adão Pereira, duos com violino, canto e violão, acompanhamentos de canto erudito e corais populares. Simplesmente pelo prazer de tocar com colegas ou como trabalho em instituições privadas e públicas, foram sempre experiências fundamentais na construção da percepção tímbrica e da diversidade interpretativa.
Cantar todas as notas (inclusive de trás para frente), tocar todas as invenções de Bach, fazer cursos, master classes, participar de formações diversas e buscar mais recursos pelo mundo afora foi o legado que o pianista Luiz Guilherme Goldberg me deixou. Não tenho certeza se ele sabia dos resultados deste incentivo e o respeito conquistado pela dedicação que recebi dele por tantos anos, finalizada pelo valioso ditado: “quem corre porque quer não cansa”.
Participei de Festivais e Seminários Internacionais quando aluna e apresentei Recitais, Palestras e Master Classes quando pianista e professora. Em todos eles, fui levada a conhecer vivências e culturas musicais distintas por todo o Brasil e em países como Japão, Turquia e Holanda.
Conhecer o pianista Julio Machado no Festival de Brasília, hoje meu marido, foi o “detalhe” final para mergulhar de cabeça no mundo da música e alcançar o nível e o reconhecimento que tenho hoje ao piano, tocando e ensinando.
Como os estudos nunca param, além daqueles voltados ao piano e à música, busquei especializações em Pedagogia do Piano e Neurodidática em instituições em Porto Alegre, Rio de Janeiro e Edimburgo (Escócia).
Sempre lembrarei da pequena Liz. A irmã mais velha estudava comigo e na época eu orientava alunos a partir de 5 anos. A mãe das meninas veio falar comigo certo dia: “Fernanda, não aguento mais. Tu vais dar aulas para a Liz (4 anos recém completos), ela não para de me pedir para fazer aulas contigo!” Uma das minhas alunas mais fofas e talentosas, ela abriu as portas para meus principais estudos relacionados ao ensino ao me “obrigar” a trabalhar com alunos mais jovens. Obrigada Liz!
Ministrando aulas particulares desde 1988, disciplinas práticas na Universidade, administrando e empreendendo, coordenando projetos de todos os portes e apresentando minhas interpretações em festivais e recitais conheci as várias faces do trabalho com música e como elas devem ser integradas e priorizadas a cada momento.
De todas estas frentes, as que mais me satisfazem são tocar em grupo e ensinar aos meus alunos a minha arte.
Hoje novos projetos nascem na PianoClass, que se tornou cada vez mais internacional, como vivencias musicais intensas via internet, elaboração de materiais claros e artísticos para meus alunos e a busca de repertórios inovadores para eles e para mim. Este novo meio de apresentar e ensinar a arte permite possibilidades antes não imaginadas e obriga uma atualização de conhecimentos constante.
Alguns dos meus projetos pessoais para o próximo ano incluem: gravações para os canais no YouTube (interpretações e aulas) + elaboração de um currículo aplicando o SCMAM para amadores tocarem como (ou tornarem-se) profissionais fora das academias + conhecer e participar de novos festivais de piano pelo mundo.
Quer vir comigo?