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Música orgânica

 Este trabalho é o resultado da realização de Oficinas de Vivência em Música, dentro da disciplina de Educação Artística, desenvolvido num ambiente de Unidades de Ensino Fundamental e Médio e em Escolas da rede Estadual de Ensino, tendo como objetivo, desenvolver no aluno, a sua Criatividade e Sensibilidade através da Musica.

          Mais tarde, foi reelaborado na forma de Projeto, para ser desenvolvido como conteúdo nos Cursos de Capacitação de Professores da Rede Estadual e Municipal de Ensino, promovidos pela Pró Reitoria de Extensão Acadêmica, da Universidade Luterana do Brasil ( ULBRA)

 

“O homem compõe a Música, a Música, compõe o homem.”
 

          A Música, como nenhuma outra Arte, é capaz de atuar sobre o ser humano modificando o seu padrão emocional e vibracional, isto é, o padrão de seu conjunto vital através da atuação sobre o corpo físico e as emoções.

          A Música, vencendo barreiras e bloqueios, penetra nas profundezas do ser. Em todas as culturas, ela desempenha um papel importantíssimo no equilíbrio psíquico, nas ligações dos homens entre si, com o meio e o cosmos.

          As descobertas e as pesquisas de Música Orgânica enquanto disciplina e abordagem estão intimamente relacionadas com a história da própria vida de quem com ela se envolveu.

          Ao abordar os fenômenos musicais de maneira menos fragmentada e preconceituosa do que a habitual, ela está perfeitamente afinada com a tendência contemporânea de transdisciplinaridade. Assim como a Biodança , o Psicodrama e muitas outras disciplinas, a Música Orgânica, dentro dos seus limites e a sua maneira, constrói pontes entre teorias e abordagens até então excludentes quanto ao estudo da interação som / fenômeno humano.

          Na verdade, foi necessário um grande esforço de síntese para estudar as inter relações entre a prática de formas musicais associadas a movimentos corporais a consciência humana e a própria vida.

          Ela não precisa parecer com a Música que toca nas rádios nem se sujeitar aos padrões estéticos acadêmicos. De certa maneira, a magia da Música independe inclusive, do apuro técnico dos músicos e equipamentos.

 

MAS O QUE É MÚSICA ORGÂNICA?
 

          Na realidade, toda Música que aconteça de fato, enlevando, sublimando e aglutinando, é, de certa maneira, orgânica. Grande parte dos poderes da Música advêm exatamente da interação pulsatória, dos ritmos que compõem as pessoas, como batimentos cardíacos, respiração, movimentos corporais e o próprio pensamento.

          O fenômeno musical pode ser atualizado e analisado sob várias óticas. O conceito de Música Orgânica refere-se, o mais explicitamente possível, ao fazer e ao pensar Música sob uma determinada abordagem ORGÂNICA, isto é, usar o nosso próprio corpo, como fonte de SONS e RITMOS….

          A VOZ é o principal SOM do instrumento ser humano. Para a abordagem orgânica, ela funciona como indicador dos estados de espírito e contato com as regiões mais profundas do ser. Sob esta perspectiva, o seu exercício é de extrema eficiência no desbloqueio corporal, na expansão da consciência e nas expressões das individualidades.

          Nas oficinas, o canto é incentivado sempre, através de movimentos corporais integrados a respiração e a emissão vocal.

          Os trabalhos com RITMOS são feitos, sempre que possível, a partir dos próprios pulsos orgânicos, usando-se a marcação dos mesmos, com as mãos, com os pés, alternando as várias formas de execução.

 

A FUNÇÃO “OUVIR”
 

          Ouvir Música é o mais próximo de produzir ou executar Música, na medida em que a vibração sonora é um fato físico que invade o corpo no momento da audição. Não necessita de interpretações estéticas para seu conteúdo harmonizante ser absorvido pelo corpo e atuar sobre o padrão emocional e vibracional da pessoa ouvinte.

          Um dos grandes prejuízos do homem contemporâneo é a perda da sutileza dos seus sentidos. Existem muitos trabalhos, mais ou menos recentes, principalmente, ao que se refere ao tato e ao contato corporal. De maneira geral, pode-se afirmar que o homem contemporâneo focaliza ocontato visual em detrimento dos outros sentidos.

          É a nossa adaptação ecológica ao mundo em que vivemos, que determina, em grande parte, os sentidos mais utilizados. Dependemos muito mais da visão para atravessar a rua, ver televisão, ler e escrever, do que, por exemplo, da audição.

          O ouvir está relacionado com a capacidade de entrega, de ser receptivo e cooperativo.

          Ao desenvolvermos um trabalho em Música Orgânica, devemos estar sempre atentos para a função “ouvir” que deve estar presente em todos os momentos; devemos lembrar aos participantes, de abrir os ouvidos e o próprio corpo ao contato do seu som ao som das outras pessoas. O ouvir, enquanto abertura e atenção ao contato sonoro, determina, na maior parte dos nossos exercícios e práticas, a possibilidade de harmonização.

          A perda da sutileza auditiva é decorrência da adaptação do homem ao seu ecossistema e a uma cultura competitiva e barulhenta. De um modo geral, o homem urbano não tem consciência de quanto precisa de seus ouvidos para orientação, comunicação e sobrevivência.

          A pouca importância que damos ao ouvir se mostra, por exemplo, na nossa pobreza de vocabulário para descrever os sons.

          Nas Oficinas, busca-se criar situações em que se precise objetivamente dos ouvidos, do contato sonoro, para que os participantes se relacionem com o que está acontecendo. As situações são construídas de modo a evitar a audição meramente passiva ou estereotipada, como pode acontecer numa conversa ou numa audição de música.

          Como “construir” estas situações? Simples……..

Devemos usar vários meios para obtermos o “clima” desejado, como:

  • Diminuir as luzes do ambiente, favorecendo uma maior concentração

  • Pedir aos participantes que fechem os olhos para que se abram outros canais de percepção

  • Produzir sons advindos de várias fontes sonoras, tais como: deixar cair um objeto no chão, bater palmas, marcar ritmos com objetos ou instrumentos de percussão

          Após a obtenção do “clima” de atenção e um certo relaxamento, os participantes estarão com aptidão para desenvolver os trabalhos propostos, que são os cinco exercícios de ouvir, que consideramos de importância máxima para começar uma oficina de Música Orgânica. Estes exercícios devem ser feitos com a máxima atenção possível, pois envolvem a atenção, percepção e audição enfim, começa-se a usar os nossos 5 sentidos: audição, visão, olfato, degustação e tato.

          Os primeiros exercícios propostos, são todos centrados no ouvir. São 5 exercícios a escolha de cada pessoa. Podem ser combinados entre si, ou feitos isoladamente.

São eles:

  • Ouvir o som desaparecer

  • Ouvir a Natureza

  • Ouvir a própria voz

  • Ouvir os sons do ambiente

  • Ouvir uma música em intensidade progressivamente menor

 

  • Ouvir o som desaparecer – De certa forma, este exercício sintetiza todos os outros quatro. Produzindo-se o som através da vibração de uma fonte sonora, ele tem como objetivo, manter a atenção no som até ele desaparecer. Neste exercício os pensamentos, a imaginação, e as sensações interferem, mas não devemos deixar que o foco principal se perca, ou seja, o som.

  • Ouvir a Natureza – A natureza por si só, já é uma sinfonia… Ouçamos então, a Música da Natureza, que tem as mesmas leis que regem a nossa existência……. Os sons da respiração, dos batimentos cardíacos, dos passos, das ondas ou do vento, fazem parte da mesma Sinfonia: a Sinfonia do Universo, da qual nós também somos INSTRUMENTOS … … .. INTÉRPRETES … … E COMPOSITORES.

  • Ouvir a própria voz – A voz é a nossa respiração audível. É uma massagem de dentro para fora, é expressão sutil das individualidades, é o som desse instrumento chamado Homem.
    São muitas as formas de expressões rítmicas da voz. Esses ritmos apesar de raramente receberem a atenção consciente, têm um papel importantíssimo no processo da comunicação. O ritmo mais evidente na voz é a respiração. Falamos ou cantamos quando expiramos , e silenciamos quando inspiramos. Esse é o Binário Básico : Inspiração / Expiração.

  • Ouvir o som ambiente – Como podemos ajudar a nossa audição? Ora, é simples…… por vários momentos durante o dia, podemos nos dar um tempo e parar, para ouvir……. sim, ouvir os sons que nos cercam e qualificá-los se são bons ou não para nós. Muitos sons nos penetram sem termos consciência disso….. essa prática , vai nos dar maior consciência do universo sonoro que nos cerca, possibilitando que vivamos melhor com ele, na medida em que observarmos a ação do som sobre o nosso metabolismo e na nossa consciência.

  • Ouvir uma Música em intensidade progressivamente menor – Coloque um CD de sua preferência, mas que não tenha muita variedade de intensidade….. Coloque-se confortavelmente em sua poltrona favorita e deixe-se envolver pela música…aos poucos, os ruídos externos, os pensamentos, as sensações, vão se tornando fundo e a música, figura. A seguir, baixe o volume……. e preste atenção ao som….abaixe cada vez mais o volume……. mais………. se alguém entrar na sala, neste momento, pensará que você estará dormindo…, mas na verdade, você está escutando o som, completamente desperto e consciente.

 

 

CONCLUSÃO
 

Na sociedade que vivemos, muitas vezes, somos obrigados a escutar, ouvir sons, nem sempre agradáveis e consequentemente tendemos a nos proteger instintivamente contra esses “sons”, nos acostumando aos ruídos da nossa vida, do nosso cotidiano, onde, nem sempre podemos fugir dessa poluição sonora.

As atribulações do dia a dia, vão nos deixando cada vez mais distantes de uma harmonização interior. Cada vez mais e mais, precisamos resgatar essas emoções tão simples, como ouvir uma cachoeira…….. o canto de um pássaro ……….. observar o movimento vibratório das ondas sonoras em um lago calmo e silencioso, quando nele atiramos uma pedrinha …….. enfim, cada vez mais o homem está de volta, em busca de suas origens, para compensar o seu desgaste físico e emocional, das suas tarefas do seu cotidiano.

Com esse trabalho, pretendemos, ajudar, colaborar, para que todos nós, Homem, nos integremos novamente a essa grande sinfonia do universo, que é a Sinfonia da Natureza…..

E nada melhor do que praticarmos a Música Orgânica, que é uma maneira simples e gratificante deste resgate físico e emocional, trazendo desta forma o ideal de todo o Ser Humano:

A HARMONIZAÇÃO DE SEU EU INTERIOR, COM O SEU EU EXTERIOR.


 

BIBLIOGRAFIA
 

ALVIN, Juliette Musicoterapia, Editora Paidos, Buenos Aires
BENEZON, R.O., Manual de Musicoterapia, Enelivros, Rio de Janeiro, 1985
DAVIS, Flora, A comunicação não-verbal, Ed. Summus, São Paulo, 1975
FREGTMAN,C.D., Corpo, Música, Terapia, Ed. Cultrix, São Paulo, 1990
STEFANI, Gino, Para entender a Música, Ed. Globo. Rio de Janeiro, 1987

 

DISCOGRAFIA
 

O SOM DA NOVA ERA – Músicas de um novo Milênio vol.3 Revista Isto é NOVA ERA – O melhor da New Age & World Musica, Vol 4 Revista Planeta

MÚSICAS

DEBUSSY, Claude, – Rêverie
DEBUSSY, Claude, – Le vent sur la pluie

RAVEL, Bolero

SHUBERT, F – Improptus, Opus.90 n.3, em Sol Maior, Andante

STRAUSS – Danúbio Azul
STRAUSS – Vozes da Primavera
STRAUSS – Valsa do Imperador

Copyright Tania Valeria Meurer Tipa – Todos os direitos reservados

Tania Valéria Meurer Tipa é Arte Educadora, Bacharel no Curso Superior de Música – Piano pelo Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É Graduada em Educação Artística e Pós Graduada em História da Arte pela Faculdade de Música Palestrina – (RS). É Professora da Rede Estadual de Ensino do Rio Grande do Sul, professora ministrante e palestrante de Cursos de Capacitação para Professores da Rede Estadual e Municipal de Ensino, promovidos pela Pró Reitoria de Extensão Acadêmica da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA (RS), atualmente trabalhando na área de Projetos e Cursos de Capacitação.