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Entrevista com a Bailarina Bia Ocougne

Bailarina, atriz, psicóloga e terapeuta corporal

biaocougneiiBia Ocougne vem de uma família de músicos e a música sempre esteve presente em sua vida. Yara Bernette, pianista, José Kliass, professor de piano, Marcel Kliass, maestro e professor de música são apenas alguns exemplos. Sem contar, Silvia Ocougne (cordas), sua irmã, que hoje mora em Berlim e trabalha com música contemporânea.

Talvez por essa razão, e por ser ela própria uma artista, Bia sempre se interessou pelo trabalho dos músicos e teve muitos deles entre seus alunos, tendo desenvolvido uma técnica toda especial para trabalhar com eles. Com seu trabalho, é possível aprender uma melhor respiração (com excelente resultado para cantores), uma melhor postura (como aprender a sentar, para os pianistas…), uma posição que exija menos esforço e mais conforto (para os violinistas, por exemplo), o que fazer para minimizar os efeitos de movimentos repetitivos que podem vir a ser prejudiciais, entre tantas outras questões.

Bia já teve, muitas vezes, a satisfação de constatar através de depoimentos de seus alunos que a própria interpretação da obra pode ser beneficiada por seu trabalho.

Formada em Psicologia pela PUC/São Paulo, Bia dá atendimento com ênfase na integração psico-corporal desde 1978.
Sua formação e seu trabalho na área artística, em especial como bailarina e coreógrafa, vem complementar e se fundir com a psicologia numa profunda avaliação da relação entre o corpo e a mente. Nessa área, participou de vários cursos, congressos, workshops e encontros, dentre os quais destacamos: conferencista no XII Congresso Internacional e I Nacional de Psicologia da Expressão (Rio de Janeiro-1988) e professora de integração pelo movimento no Curso de “Abordagem Corporal”, do Instituto Sedes Sapientae (São Paulo – de 1979 a 1981).

Desde 1972, dedica-se à ginástica corretiva, desenvolvendo técnicas de relaxamento, massagem, respiração, expressão e conscientização corporal. Nessa área, também alia a dança ao trabalho terapêutico corporal.

De sua formação em dança, destacamos alguns cursos: Nos Estados Unidos, com I. Kuniramam (1979-80); na Índia, com G. Ramani Ranjan Jena e Bindu Juneja (1995, 96, 97, 98 e 99); na Indonésia (Bali), estagiou na Companhia I Made Djamat (1980). Desde então, voltou várias vezes à Indonésia para se dedicar ao estudo da dança e do teatro balinês. Em São Paulo, cursou Buthô com Maura Baiocci e foi discípula de Klaus Viana. Estudou técnicas de dança moderna e contemporânea com Sonia Mota, Susana Yamauchi, Jennifer Brilliant, Jane Lewis, Kay de Langle entre outros. Formou-se em Ginastique Holistique na Association Des Eleve Du Dr. L. Ehrenfried de 89 a 91, na França. Estudou dança do ventre com Jamila Saliempour, Ahmed Faisaily, Ghassan Fadiahah, entre outros.

Na sua atividade profissional, Bia divide seu tempo entre o trabalho de terapeuta corporal e o trabalho artístico.

biaocougnei

Como terapeuta corporal, Bia atua desde 1972, tendo fundado seu estúdio no ano de 1985, o Estúdio Bia Ocougne situado no bairro dos Jardins, em São Paulo. Lá, dá cursos regulares de Ginástica e Dança, Dança Indiana, do Ventre, Balinesa, Flamenco e Contemporânea; cursos de Ginástica Facial, Ginástica para Gestantes e Bebês e, oferece, ainda, atendimento individual. Fora de seu Estúdio, destacamos alguns importantes trabalhos de Bia Ocougne nessa área: Aulas de Ginástica e Dança em Nova York, de dezembro de 86 a março de 87; Professora assistente de Ivaldo Bertazzo em São Paulo, de 1977 a 1983 e de Odete Flarks, de 1970 a 1973; vários cursos para empresas, instituições, grupos etc em São Paulo, cidades do interior do Estado e outros Estados brasileiros.

Todo esse longo caminho profissional levou Bia Ocougne a criar os Movimentos Integrativos que podem ser assimilados por qualquer pessoa, mesmo aquelas que não têm nenhum conhecimento sobre trabalhos corporais. Os Movimentos Integrativos trabalham estimulando a flexibilidade e a vitalidade do corpo com exercícios corporais e danças, assim como o relaxamento das tensões por meio de massagens, alongamento e respiração. Isso resulta num corpo mais ágil, vivo, harmônico e capaz de um novo equilíbrio postural o que acaba favorecendo uma maior clareza em relação à solução dos próprios conflitos.

Como atriz e bailarina, destacamos os trabalhos abaixo relacionados:

  • Clara Crocodilo, direção de Lala Henzelin;
  • Baile da Ilha Fiscal, direção de Ivaldo Bertazzo;
  • A Vênus das Peles, direção de Maurício Abud;
  • Danças Sublimes de Bali, direção de Bia Ocougne e Atílio Lopes;
  • Lua Turca, direção de Celso Cury e Dionísio de Azevedo;
  • Balinese American Dance Theatre, direção de Islene Pinder (Nova York);
  • Companhia de Dança Teatro Flamenco Raies, em São Paulo, em 92 e 93.
  • A Sopa, direção de Franco Renoud (vencedora da Jornada SESC de Humor/93);
  • Áulis, direção de Elias Andreato e Celso Frateschi;
  • As Guerreiras do Amor, direção de Celso Frateschi;
  • Espetáculo de Dança Indiana Odissi;
  • Em constante aperfeiçoamento, Bia vem estudando canto com diversos professores, entre eles: Rose Marie, Francisco Campos e Vitor Olivares.

 

ENTREVISTA

 

Síssi Fonseca

Na sua opinião, você acha que a dança indiana se assemelha em algum aspecto com a dança contemporânea? Em qual aspecto?

 

Bia Ocougne

A dança será sempre para o Homem a celebração da vida, o desdobramento do ritmo em sentimento, brincadeiras, expressão, cadência etc. Numa tribo primitiva de um povo da América (México) havia uma só palavra para designar dança e trabalho.
Desde que o Homem existe, a sua relação com o movimento é indissolúvel. Respiração é movimento. Expansão e retração, respiração e ritmo. Tudo no Universo é movimento.
Para os indianos, a dança é uma das várias expressões artísticas e religiosas. Toda a expressão artística é uma manifestação divina. Para os orientais, a arte é uma manifestação divina, é uma forma de reverência e oferenda aos deuses. Para os orientais, a dança, a escultura, a arquitetura, a música e a pintura sempre foram interrelacionadas. Encontramos em templos de 2 000 anos formas esculpidas de figuras dançando, formas essas que são repetidas nas danças clássicas indianas até a atualidade. As coreografias vêm sendo dançadas no Oriente às vezes de maneira quase igual através de gerações. Eram passadas de pai para filho e eram preservadas como tesouros.
É impressionante como os indianos são musicais. As danças têm uma complexidade rítmica enorme, o que para eles é natural. Sabemos que a música indiana é de extrema complexidade e para eles é evidente a conexão musical com o movimento. Grandes coreografias foram compostas pelo mesmo compositor-coreógrafo o que mostra o quão profundo era seu conhecimento de música.
Claro que no Ocidente dança-se para uma música mas não vejo o mesmo entrelaçamento da coreografia musical e da coreografia dançada; e às vezes não percebo aprofundamento musical dos coreógrafos nas suas composições.
O Homem quando dança sempre dança o “divino” nele, a leveza; e nisso o ocidental e o oriental se assemelham.

 

Deise Previato

Gostaria que a Bia comentasse o trabalho corporal que ela faz sob o ponto de vista lúdico uma vez que a maioria dos trabalhos ou é extremamente aborrecido ou é “malhação”. É difícil de se encontrar um trabalho corporal realmente eficaz mas que, ao mesmo tempo, possa ser divertido. Daqueles que dá vontade de ir e não de arrumar desculpas para não ir.

 

Bia Ocougne

Nas nossas aulas o bom humor é essencial. São freqüentes comentários como: “As aulas fazem bem para o corpo e para a alma”; “Meu humor melhora 100% ao longo da aula”; “Não falto porque sei que saio sempre feliz”.
Não usamos espelho no estúdio. Creio que quando se usa um espelho a referência passa a ser o visual, o estético e o “de fora”, além de exacerbar a crítica. Além disso temos a heterogeneidade das pessoas. Jovens, velhos, magros, gordos, bonitos, feios (como na via real…) e, se alguém tem dificuldade com um movimento, o outro pode ter facilidade e vice-versa o que acaba criando um clima de cumplicidade e leveza. Muitas vezes nos sentimos desestimulados a fazer um trabalho de movimento por estarmos nos sentindo gordos, velhos ou inadequados ou, ainda, fora de um modelo padronizado… Às vezes, ainda, temos o desejo de dançar. Mas, sem ter a técnica de um profissional nos sentimos tímidos para ingressar numa aula de dança. Mas, não buscamos a profissionalização nas aulas de dança. É aí que entra o lúdico, o prazer do movimento que vamos conquistando.
Nas nossas aulas, as pessoas são estimuladas por uma atmosfera gentil e gostosa. A roupa usada é sempre a mais à vontade possível. Não há modismos e nem “certo” ou “errado” – essa é a nossa máxima. O que estimulamos é o crescimento individualizado , a harmonização do gesto, o bem-estar no cotidiano, o alívio das dores, a melhora da forma física. A melhora estética é uma conseqüência e os alunos vão incorporando ao seu dia-a-dia o conhecimento adquirido. Sempre acreditei que o bom humor e a vitalidade são mutuamente despertados. Por isso, acreditamos em seriedade mas não em sisudez.

 

Piano Class

Gostaríamos de saber mais sobre o seu trabalho de respiração e posição corporal realizado junto aos músicos.

 

Bia Ocougne

No treino cotidiano , que normalmente dura muitas horas numa mesma posição, o músico fica muito sobrecarregado. Movimentos repetitivos, postura forçada, respiração insuficiente e mesmo a tensão proveniente das exigências técnicas são fatores que combinados vão trazendo desconforto, dor e até mesmo complicações mais sérias que, se viram crônicas, chegam a impedir o músico de exercer sua profissão.
Para combater a LER (lesão do esforço repetitivo) e outros problemas, trabalhamos, através dos Movimentos Integrativos, a reorganização de grupos musculares muito solicitados, melhorando a flexibilidade muscular e articular, relaxando as tensões excessivas que podem virar crônicas. Buscamos o alívio das dores, fortalecendo e dando mais resistência para permanecer nos treinos com menos desgaste.
Afinando também o instrumento corpo, o músico se desgastará menos e teremos mais eficácia na performance.
Às vezes observamos o intérprete com uma respiração segmentada e até mesmo acompanhando a música. Isso traz interferências na interpretação. O corpo “acompanha”, segue as mesmas tensões da música e sabemos que esse não é o melhor caminho. O corpo deveria ser capaz de respirar independentemente da interpretação musical. Já notei em vários violonistas, por exemplo, que a respiração é tão forte que chega a interferir no som. O corpo sendo um elemento a mais de interdependência e afinação torna-se um aliado mais eficaz para melhorar a interpretação.

 

Piano Class

Como funciona a ginástica para bebês e quais os seus benefícios?

 

Bia Ocougne

A experiência da massagem em bebê também me foi dada na Índia. Lá, a massagem é prescrição médica desde o dia em que o bebê nasce. Os médicos têm a experiência, sedimentada através de gerações, que os benefícios da massagem são enormes.
O bebê ao nascer “perde” o seu invólucro materno para iniciar uma longa jornada onde o continente pele fica muito exposto. Através da massagem, os seus limites corpóreos vão sendo melhor delineados; a relação mãe-bebê , mundo-bebê vai sendo fortalecida paulatinamente, o que provoca mais conforto físico e psíquico para a criança.
Os principais benefícios são: as cólicas são amenizadas, assim como a dor do crescimento. O sono fica mais regulado, a coordenação motora melhora (é evidente a excelente coordenação motora das crianças indianas).
Segundo alguns autores, a pele é o sistema nervoso na superfície e, através da massagem, também conseguimos harmonizar o processo de desenvolvimento psicomotor (é claro que a mãe tem que ter muita disposição pois não é muito fácil…).

 

Piano Class

Você poderia esclarecer melhor o que são os Movimentos Integrativos?

 

Bia Ocougne

É um método de reeducação do movimento. O corpo é um campo aberto a mudanças profundas. Ao trabalharmos o corpo com consciência, exercitando os músculos para adquirir força e tonicidade ou procurando uma postura mais equilibrada, também promovemos uma nova organização psicológica , mais saudável e harmoniosa. A consciência dessa íntima relação entre corpo e mente nos permite ver a extraordinária importância de um trabalho corporal que considere as mudanças internas que ocorrem nesse processo. Os Movimentos Integrativos trabalham estimulando a flexibilidade e a vitalidade do corpo, com exercícios corporais e danças, assim como o relaxamento das tensões, por meio de massagens, alongamento e respiração. Como resultado, proporcionam um corpo mais ágil, vivo, com movimentos flexíveis e capaz de um novo equilíbrio postural. Ao mesmo tempo, os Movimentos Integrativos favorecem a flexibilização interna e uma maior clareza com relação à solução dos próprios conflitos.

 

Piano Class

Para músicos e pessoas em geral que não moram em São Paulo e desejam participar de um trabalho corporal como o que você realiza, você teria lugares e/ou professores para indicar ou você mesma costuma trabalhar em outras cidades?

 

Bia Ocougne

Para as pessoas que moram fora de São Paulo e que gostariam de se beneficiar dos Movimentos Integrativos, temos duas possibilidades: a primeira de montar grupos especiais em dias especiais (como em finais de semana e feriados, por exemplo) aqui mesmo, no Estúdio Bia Ocougne, em São Paulo. A segunda, é a de se montar grupos em outras cidades e eu me desloco até lá. Tenho feito muito isso e dado cursos intensivos em várias localidades. Aliás, é um trabalho que gosto muito de fazer. Conhecer novas cidades, pessoas diferentes. Para os interessados nesses grupos especiais (em São Paulo e/ou em outras cidades), peço a gentileza de entrar em contato com minhas produtoras para maiores esclarecimentos : Marina Villara ou Ruth Faria – telefone/fax: (11) 883-5905 – e-mail: villara@webnet.com.br

 

 

A Piano Class agradece a participação de todos e em especial da bailarina Bia Ocougne por nos dar a oportunidade de ampliarmos os nossos conhecimentos através da sua generosa participação.
Obrigado!